Grupo Impressão 3D Brasil fazendo história! Há 12 anos o grupo foi criado no facebook.
Fizemos essa timeline aqui que resume os 12 anos do grupo e que não intencionalmente resumem também a impressão 3D no Brasil😁
Timeline Resumida do Grupo Impressão 3D Brasil (desde 2013)
- 2013: Criação do grupo. Pouca gente tinha impressoras, quase todas nacionais (Cliever, Sethi3D, Metamáquina). O papo era básico: prototipagem, DIY e primeiras impressões.
- 2014: Crescimento lento, ainda focado nas marcas brasileiras e no conceito RepRap. Impressora era coisa de laboratório, mas a galera já começava a se ajudar.
- 2015: Mais gente tentando montar máquinas em casa. As nacionais ainda dominavam, mas as internacionais começavam a ser comentadas. O grupo virava ponto de encontro para dúvidas técnicas.
- 2016: Primeiras conversas sobre impressoras chinesas baratas, como a Anet A8. Foi quando pintou a primeira pergunta sobre ela por aqui.
- 2017: A Creality chega forte com a CR-10. Impressora grande, preço acessível, e muita discussão sobre upgrades e qualidade.
- 2018: A Ender 3 chega e vira febre. O grupo explode em tutoriais, mods, comparativos e dicas para iniciantes.
- 2019: Ender 3 continua reinando, agora com a versão Pro. Discussões sobre filamentos e softwares (Cura, principalmente) ganham destaque.
- 2020: Pandemia. O grupo se mobiliza para imprimir EPIs, máscaras e até peças para respiradores. Foi o pico de engajamento coletivo.
- 2021: O papo começa a mudar para melhorias técnicas: direct drive, placas silenciosas, Klipper e afins.
- 2022: Impressoras rápidas e CoreXY aparecem em peso. A Bambu Lab lança a X1. Começa a conversa sobre Indústria 4.0 e materiais sustentáveis.
- 2023: A Bambu Lab toma conta das conversas com velocidade e impressão multicolorida.
- 2024: Ender 3 V3 e K1 da Creality ganham espaço. O mercado acelera cada vez mais.
- 2025: Diversificação total. Impressoras multi-cor, multi-tool e nichos especializados.
Introdução: A Fogueira Digital de uma Revolução
Fundado em 2013, este grupo transcendeu sua função de mero fórum social para se tornar uma fogueira digital, um arquivo vivo e um catalisador para a popularização da impressão 3D no Brasil.
Para fornecer uma visão geral, os itens abaixo descrevem as fases desta evolução e progresso das impressoras 3d.
A Génese (2013-2015): A Era dos Pioneiros e das Vanguardas Nacionais
O Cenário
O período entre 2013 e 2015 foi marcado pela escassez e por elevadas barreiras de entrada no mundo da impressão 3D. A impressora 3D era uma novidade, e a comunidade era composta por um pequeno grupo de pioneiros. A tecnologia era percebida como algo saído da ficção científica, com as discussões iniciais sobre a viabilidade de se ter em casa. Eventos e competições de design, como o Desafio 3D da Designoteca, começaram a surgir para divulgar a tecnologia a um público mais vasto, mas o acesso ao hardware continuava a ser o principal obstáculo.
Os Campeões Nacionais
Neste contexto, os “elevados custos de importação” tornavam máquinas estrangeiras de renome, como a MakerBot Replicator 2, proibitivamente caras para a maioria dos entusiastas. Esta realidade económica abriu um espaço vital para o surgimento de fabricantes brasileiros, que se tornaram os pilares da comunidade nesse período.
A Cliever CL-1 emergiu como a “primeira impressora 3D 100% brasileira”. Desenvolvida pela Cliever Tecnologia(essa empresa foi vendida), uma empresa incubada na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), a impressora era comercializada por aproximadamente R$ 4.500, um valor drasticamente inferior aos importados equivalentes da época.
Simultaneamente, a Metamáquina, sediada em São Paulo, ganhava destaque com as suas impressoras de baixo custo, profundamente enraizadas na filosofia de código aberto do projeto RepRap. No início de 2014, a Metamáquina já tinha vendido mais de 150 unidades, um testemunho da existência de um mercado que busca soluções viáveis.
Foco da Comunidade
As discussões no grupo “Impressão 3D Brasil” durante esta era eram, por necessidades mais fundamentais. Os membros auxiliavam-se ns processos de montagem e calibração das máquinas RepRap e celebravam as suas primeiras impressões bem-sucedidas como conquistas monumentais.
A dependência de projetos baseados em RepRap teve um efeito secundário profundo: criou uma comunidade autoselecionada de primeira linha. Este requisito funcionou como um filtro, garantindo que a primeira vaga de utilizadores no grupo era predominantemente composta por engenheiros, entusiastas de eletrónica e académicos. Esta base cultural estabeleceu um padrão que seria dramaticamente desafiado e transformado nos anos seguintes.
O Fenómeno Anet A8 (2016-2017): O Catalisador para a Adoção em Massa
As Comportas Abrem-se
Se a era da Génese foi definida pela escassez, o período de 2016-2017 foi marcado por uma inundação. A chegada da Anet A8, um kit DIY de origem chinesa, foi o evento singular talvez mais transformador na história da impressão 3D amadora no Brasil. O seu preço ultrarreduzido, frequentemente abaixo dos R$700(não tinha impostos na época e o dolár tava baixo), demoliu a barreira económica que tinha mantido o hobby confinado a um nicho. O grupo “Impressão 3D Brasil” assistiu, um crescimento exponencial no número de membros, à medida que centenas de novos utilizadores entravam neste universo.
A Espada de Dois Gumes
A Anet A8 era, simultaneamente, uma bênção e uma maldição
Do lado positivo, era incrivelmente acessível e, uma vez montada e afinada, era capaz de produzir impressões de qualidade decente. O seu design, um clone da popular Prusa i3, significava que era altamente modificável, e uma vasta comunidade online global rapidamente se formou para oferecer suporte, partilhando melhorias e soluções para os seus muitos problemas.
No entanto, os seus defeitos eram graves e, em alguns casos, perigosos. A impressora era notoriamente difícil e demorada de montar, com instruções pouco claras e peças de qualidade variável. Mais criticamente, a Anet A8 era um significativo risco de incêndio(houve alguns casos). Esta perigosidade derivava de uma combinação de fatores: uma frágil estrutura de acrílico, uma fonte de alimentação de baixa qualidade e, o mais alarmante, a ausência de proteção contra fuga térmica (thermal runaway protection) no seu firmware de fábrica. Esta falha de segurança significava que, se o sensor de temperatura se soltasse do bloco de aquecimento, a impressora continuaria a aquecer descontroladamente, podendo inflamar o filamento e componentes adjacentes.
Transformação da Comunidade
O “Rito de Passagem”: As primeiras publicações de um novo proprietário de uma Anet A8 eram, quase invariavelmente, pedidos de ajuda sobre uma lista de upgrades considerados obrigatórios. A instalação de MOSFETs externos para aliviar a carga de corrente da mesa aquecida na placa-mãe, a atualização do firmware para uma versão do Marlin com a proteção contra fuga térmica ativada e a impressão de reforços para a estrutura de acrílico tornaram-se os primeiros passos essenciais para qualquer utilizador responsável.
Uma Cultura de Sobrevivência Partilhada: O grupo transformou-se num repositório de guias de sobrevivência. Utilizadores experientes alertavam incessantemente os recém-chegados sobre os perigos e forneciam tutoriais detalhados para as modificações de segurança necessárias. A experiência partilhada de domar esta máquina forjou um forte sentimento de camaradagem e uma identidade coletiva. Um produto com uma falha de segurança tão conhecida deveria, logicamente, ter sido um fracasso de mercado. Em vez disso, os defeitos da Anet A8 tornaram-se a sua característica cultural definidora. A necessidade de realizar upgrades de segurança criou uma experiência fundacional partilhada para uma nova e massiva vaga de utilizadores. Isto não era apenas um hobby; era um desafio a ser superado.
Não era possível simplesmente “usar” uma Anet A8; era preciso compreender a sua eletrónica e sua mecânica.
O Novo Rei é Coroado (2018-2020): O Reinado Incontestável da Ender 3
A Disrupção da Creality
A entrada da Creality no mercado brasileiro começou com modelos como a CR-10, que foi bem recebida pela sua grande área de impressão e construção robusta. No entanto, foi o lançamento da Ender 3 em 2018 que provocou uma mudança sísmica. Em pouco tempo, ela destronou a Anet A8 e tornou-se a rainha indiscutível do mercado de impressoras 3D de baixo custo, um título que manteria por vários anos.
Porque é que a Ender 3 Venceu
O sucesso avassalador da Ender 3 pode ser atribuído à forma como abordou e resolveu diretamente os maiores problemas da Anet A8. A sua proposta de valor era simples e poderosa: oferecer uma experiência de impressão fiável e de qualidade a um preço que continuava a ser extremamente competitivo.
- Construção Superior: A Ender 3 apresentava uma estrutura robusta feita de extrusões de alumínio, proporcionando uma estabilidade muito superior à frágil estrutura de acrílico da A8. Esta rigidez traduzia-se diretamente numa melhor qualidade de impressão.
- Facilidade de Montagem: Ao contrário do kit complexo da A8, a Ender 3 era um kit semi-montado. O tempo de construção foi reduzido de mais de 8 horas para apenas algumas, tornando a tecnologia acessível a um público menos inclinado para a mecânica intensiva.
- Segurança e Fiabilidade: A Ender 3 era significativamente mais segura de origem. Embora os primeiros modelos ainda beneficiassem de atualizações de firmware para garantir que a proteção contra fuga térmica estava ativa, não representava o mesmo risco de incêndio iminente que a sua antecessora.
- Valor Imbatível: A impressora oferecia uma qualidade de impressão excelente para o seu segmento de preço, estabelecendo um novo padrão de referência para o que uma impressora económica podia alcançar. Rapidamente se tornou a recomendação padrão para iniciantes.
A Plataforma para a Criatividade
Um enorme ecossistema de upgrades, tanto impressos pelos próprios utilizadores como comercialmente disponíveis, floresceu. Os membros do grupo partilhavam guias para instalar extrusoras de metal, tubos Bowden de Capricorn, placas-mãe silenciosas e sistemas de nivelamento automático(BLTouch). .
Além disso, o domínio esmagador da Ender 3 no mercado teve um poderoso efeito secundário: a padronização da experiência do iniciante. A grande maioria dos novos utilizadores no grupo possuía agora a mesma máquina. Isto criou uma base de conhecimento partilhada massiva. Este efeito de rede gerou um ciclo de feedback positivo: quanto mais popular a Ender 3 se tornava, mais atrativa para novos compradores, cimentando o seu reinado por anos.
A Era do Refinamento e da Especialização (2021-2022): Para Além do Básico do “Bedslinger”
Maturação do Mercado
Com uma base sólida em FDM(Modelagem por Deposição Fundida) estabelecida pelo reinado da Ender 3, o hobby começou a diversificar-se. O mercado amadureceu e os utilizadores, agora mais experientes, começaram a explorar nichos especializados que iam para além da impressão FDM cartesiana básica.
A Ascensão da Resina
Um dos desenvolvimentos mais significativos foi a popularização das impressoras de resina baseadas em LCD. Marcas como Elegoo(com a série Mars) e Anycubic(com a série Photon) tornaram esta tecnologia, antes restrita a ambientes profissionais, amplamente acessível. Dentro do grupo Impressão 3D Brasil, uma nova subcomunidade vibrante começou a formar-se, focada nos processos, materiais e desafios únicos da impressão em resina. Aplicações em odontologia, joalharia e, especialmente, na impressão de miniaturas para jogos de tabuleiro e RPG, ganharam um enorme impulso. Várias empresas de fabricação de resina começaram a surgir)A indústria brasileira de resinas, viu a produção crescer exponencialmente, passando de 17 toneladas em 2019 para 71 toneladas em 2021(isso as registradas).
A Revolução Klipper
Paralelamente, uma revolução de software estava a acontecer no mundo FDM. O surgimento do firmware Klipper marcou um ponto de viragem. A sua arquitetura inovadora, que descarrega os cálculos de movimento intensivos da para um computador mais “preparado” como uma Raspberry Pi, permitiu que até as antigas e fiéis Ender 3 atingissem velocidades e qualidade de impressão melhores. Conceitos avançados como “input shaping”(para mitigar vibrações) e “pressure advance”(para otimizar a extrusão) entraram no dicionário da comunidade, elevando o nível técnico das discussões.
O Trono é Desafiado
O domínio absoluto da Ender 3 começou a ser desafiado. Novos concorrentes entraram no mercado, oferecendo características que antes eram consideradas upgrades(o mesmo que aconteceu com a Anet), como nivelamento automático da mesa, extrusoras de acionamento direto e placas-mãe silenciosas. Modelos como a Tycoon Slim e as próprias evoluções da Creality, como a Ender 3 S1 e a Ender 3 V2 Neo, começaram a ganhar tração, forçando uma concorrência mais acirrada.
Durante a maior parte da história do grupo, melhorar uma impressora significava comprar e instalar peças físicas. O Klipper representou uma mudança de paradigma. Um dos upgrades de maior impacto passou a ser “uma peça” de software de código aberto e gratuito.
A ascensão simultânea da impressão em resina e das máquinas FDM de alta velocidade alimentadas por Klipper fragmentou a comunidade outrora unificada em torno da Ender 3. A monocultura chegou ao fim. O feed principal do grupo “Impressão 3D Brasil” começou a refletir esta diversidade, com a formação de “tribos” distintas em torno de diferentes tecnologias e objetivos. Havia os “Artistas da Resina”, em busca do detalhe impecável; os “Pilotos de Corrida Klipper”, a levar os limites da velocidade FDM ao extremo; e os recém-chegados com as suas “Ender Vanilla”, ainda a aprender o básico.
A Mudança de Paradigma (2023-Presente): A Era da Velocidade e da Inteligência
A Disrupção da Bambu Lab
Se a Anet A8 democratizou o acesso e a Ender 3 estabeleceu um padrão de confiança, a chegada da Bambu Lab ao mercado brasileiro em 2023 introduziu um novo paradigma: a impressão 3D como um eletrodoméstico de alto desempenho. As suas impressoras, ofereceram uma proposta de valor completamente diferente, tão impactante quanto as disrupções anteriores.
- Excelência de Origem: Estas máquinas entregavam, logo após serem retiradas da caixa, velocidades de impressão estonteantes, qualidade excecional e funcionalidades avançadas que antes exigiam semanas de modificação e ajuste por parte do utilizador. Sistemas como o AMS (Automatic Material System) para impressão multimaterial, calibração assistida por LIDAR e deteção de falhas por IA tornaram-se acessíveis ao consumidor comum, com uma configuração mínima.
- Esbatendo as Fronteiras: A qualidade e a velocidade destas máquinas de “consumo”, com preços abaixo dos 3.000 dólares, começaram a rivalizar e, em alguns casos, a superar as de impressoras FDM industriais que custavam dezenas de milhares de dólares. Este facto provocou uma reavaliação profunda no mercado, com profissionais e pequenas empresas a optarem por múltiplas impressoras Bambu Lab em vez de uma única máquina industrial.
Uma Nova Divisão Cultural
A natureza “plug-and-play” das impressoras Bambu Lab gerou um novo e intenso debate dentro do grupo “Impressão 3D Brasil”. Aquele maker forjado após longos anos de luta com Anets e Enders, foi subitamente confrontado com uma nova abordagem, a do “utilizador de eletrodoméstico(que não é bem assim e muita gente está quebrando a cara)“. Nesta nova filosofia, a impressora é uma ferramenta que se espera que funcione perfeitamente, sem necessidade de intervenção profunda, permitindo que o foco se desloque inteiramente do processo para o resultado final.
A quebra da ilusão
Induzido por lojas e influenciador, como uma solução fácil e de rápido retorno, os utilizados dos “eletrodomésticos” plug-and-play, perceberam com o tempo que assim como as impressoras anteriores, as Bambu passavam pelo mesmos problemas(afinal continua sendo uma impressora 3D). A partir dai novas discussões passaram a ser vistas no grupo impressão 3D Brasil como a de “mais um enganado”.
Venha fazer parte
Resumindo: A Anet A8, em 2016, foi divisor de águas. Barata, mas cheia de problemas, virou praticamente um “rito de passagem”: todo mundo perguntava sobre upgrades, mods e, claro, como evitar os riscos de incêndio. A comunidade cresceu muito nessa época, sempre no espírito de “sobrevivência coletiva”.
A Ender 3, em 2018, mudou tudo de novo. Fácil de montar, segura, barata e boa. Virou o padrão dos iniciantes e ficou anos como a “impressora oficial do grupo”.
Depois, veio a diversificação: resina, Klipper, impressoras rápidas… até chegarmos às Bambu Lab em 2023, que trouxeram a era do “plug-and-play”. Mas como muita gente descobriu, ainda é impressora 3D, com seus desafios.
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